
Responsáveis por 3,6 milhões de hectares cultivados com soja na última safra, os municípios do médio-norte de Mato Grosso — entre eles Sorriso, Lucas do Rio Verde e Nova Mutum — também despontam como uma nova fronteira para o desenvolvimento rural sustentável e diversificado. Pesquisas apontam que a integração entre lavouras de soja e criação de abelhas pode elevar, em geral, 15% a produtividade das lavouras, sem a necessidade de aumento nos custos de produção. Os dados foram apresentados durante o workshop “O Agro e as Abelhas”, realizado no dia 8 de maio, no campus do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), em Sorriso. A iniciativa foi promovida pelo IFMT e o Clube Amigos da Terra (CAT Sorriso).
Entre os grandes produtores de soja do mundo, Sorriso se destaca como o município com maior volume de produção do grão. Além disso, vem ampliando sua atuação na produção de mel. Conforme a Secretaria Municipal de Agricultura Familiar e Segurança Alimentar de Sorriso, existem cerca de 50 meliponicultores e 70 apicultores em atividade. “Hoje a gente visa coletar enxames e levar para produtores, pequenos ou grandes, que queiram começar essa atividade na sua propriedade”, explicou o secretário Lucas de Oliveira.
O evento evidenciou os benefícios da polinização cruzada para o desenvolvimento tanto da agricultura quanto da apicultura na região. Em sua palestra, o engenheiro-agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja, Décio Luiz Gazzoni destacou os impactos econômicos relevantes. “É possível imaginar o volume de recursos que poderiam ser injetados na economia local com uma integração bem estruturada entre lavouras de soja e abelhas. Na soja, os ganhos de produtividade podem variar entre 10% e 30%, dependendo de fatores como clima, manejo e localização das áreas cultivadas. É renda líquida para o produtor, já que não há aumento de gastos com sementes, fertilizantes ou defensivos”, explicou Gazzoni.
Na apicultura, os dados também são promissores. Durante a florada da soja, os produtores de mel podem colher entre 40 e 60 kg de mel por caixa, enquanto a média nacional é de 19 kg por colmeia ao ano. Para o presidente da Associação dos Apicultores de Sorriso, Walter Nericke, o conteúdo apresentado no evento tem relevância para transformar a realidade da atividade no estado. “Estou muito convencido de que, daqui a dois ou três anos, vai mudar totalmente o cenário da apicultura e os agricultores vão querer abelhas nas propriedades de soja”, disse Nericke.
“Sorriso tem a sorte de ter uma instituição, que é o Clube Amigos da Terra, que tem uma atuação independente, uma visão ampla. É uma associação de produtores rurais, com foco em sustentabilidade, que atua junto à agricultura familiar também. Este evento mostrou como o CAT Sorriso agrega conhecimento e soluções para a economia e projetos sustentáveis”, enfatizou o engenheiro-agrônomo e embaixador do CAT Sorriso, Xico Graziano.
Durante o evento, produtores rurais do Rio Grande do Sul demonstraram práticas bem-sucedidas de integração entre soja e apicultura. Com décadas de experiência, o apicultor Aldo Machado dos Santos apresentou resultados positivos da parceria entre grandes e pequenos produtores na região de São Gabriel (RS).
“Nessas propriedades, não existe perda de colmeias e os produtores estão tendo também o acréscimo na produção. O mel produzido a partir da polinização da florada da soja é muito bem aceito, porque tem um aroma muito floral e um sabor agradável. É um mel claro, de difícil cristalização. Um diferencial muito grande dos outros tipos de mel”, detalha.
O produtor rural Murilo Teixeira Gonçalves, também de São Gabriel, apontou o desconhecimento sobre o uso de defensivos agrícolas como uma barreira à integração.
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“Hoje, o maior paradigma que nós temos que derrubar é a afirmação de que os químicos e defensivos são os responsáveis pelas mortes das abelhas. E eu digo que não é isso! O cuidado que temos que ter é com a tecnologia de aplicação. A minha máquina de aplicação precisa estar bem calibrada e as aplicações não devem ser feitas durante o dia, porque vai ser o momento em que as abelhas estão nas flores. Então, a gente muda, faz aplicação noturna, que é o período em que as abelhas não estão no campo. Tudo é questão de cuidado,” pontuou Murilo.
O workshop “O Agro e as Abelhas” foi realizado pelo IFMT e CAT Sorriso, dentro do projeto Cultivando Vida Sustentável — uma parceria da associação com a organização IDH e a empresa Cargill.
“Esse workshop superou as expectativas. As palestras foram incríveis e eu acho que abriram a cabeça de muita gente para uma possibilidade muito inovadora, que é a produção de soja com a produção de abelhas para, assim, aumentar a produtividade no campo. É o primeiro de vários eventos desse sentido que a gente pretende ofertar”, comemorou a diretora geral do IFMT Campus Sorriso, Zaryf Araji Dahroug Pacheco.
“Foi um marco para nós, apicultores, no Brasil. Foi o primeiro evento em que vi tanta representatividade. Estava aqui uma representante da Aprosoja Mato Grosso, um pesquisador da Embrapa, apicultores, membros de órgãos públicos, todos juntos e engajados no desenvolvimento das atividades sustentáveis”, disse Aldo Machado, que já foi presidente e vice-presidente da Federação Gaúcha de Apicultores por cinco mandatos.
Para Jerusa Rech, gerente de defesa agrícola da Aprosoja-MT, a integração entre apicultura e sojicultura deve ganhar mais espaço e divulgação. “As palestras técnicas que foram apresentadas trouxeram bastante informação e é isso que nós, como associação, precisamos fazer: difundir essas informações, levar o conhecimento a todos os nossos associados e também à sociedade em geral, para que todos entendam que a nossa agricultura é sustentável, ela produz e consegue preservar o meio ambiente de uma maneira que não se vê em nenhum outro país”, destacou.
O evento contou ainda com apoio da Embrapa, Prefeitura de Sorriso, Associação de Apicultores de Sorriso, APIS Vale (Associação de Apicultores e Meliponicultores do Vale do Teles Pires) e Cidesa (Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental Alto Teles Pires).
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