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segunda-feira, 12, maio, 2025

Áreas de soja podem transformar municípios de Mato Grosso em grandes produtores de mel

Responsáveis por 3,6 milhões de hectares cultivados com soja na última safra, os municípios do médio-norte de Mato Grosso — entre eles Sorriso, Lucas do Rio Verde e Nova Mutum — também despontam como uma nova fronteira para o desenvolvimento rural sustentável e diversificado. Pesquisas apontam que a integração entre lavouras de soja e criação de abelhas pode elevar, em geral, 15% a produtividade das lavouras, sem a necessidade de aumento nos custos de produção. Os dados foram apresentados durante o workshop “O Agro e as Abelhas”, realizado no dia 8 de maio, no campus do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), em Sorriso. A iniciativa foi promovida pelo IFMT e o Clube Amigos da Terra (CAT Sorriso).

Entre os grandes produtores de soja do mundo, Sorriso se destaca como o município com maior volume de produção do grão. Além disso, vem ampliando sua atuação na produção de mel. Conforme a Secretaria Municipal de Agricultura Familiar e Segurança Alimentar de Sorriso, existem cerca de 50 meliponicultores e 70 apicultores em atividade. “Hoje a gente visa coletar enxames e levar para produtores, pequenos ou grandes, que queiram começar essa atividade na sua propriedade”, explicou o secretário Lucas de Oliveira.

O evento evidenciou os benefícios da polinização cruzada para o desenvolvimento tanto da agricultura quanto da apicultura na região. Em sua palestra, o engenheiro-agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja, Décio Luiz Gazzoni destacou os impactos econômicos relevantes. “É possível imaginar o volume de recursos que poderiam ser injetados na economia local com uma integração bem estruturada entre lavouras de soja e abelhas. Na soja, os ganhos de produtividade podem variar entre 10% e 30%, dependendo de fatores como clima, manejo e localização das áreas cultivadas. É renda líquida para o produtor, já que não há aumento de gastos com sementes, fertilizantes ou defensivos”, explicou Gazzoni.

Na apicultura, os dados também são promissores. Durante a florada da soja, os produtores de mel podem colher entre 40 e 60 kg de mel por caixa, enquanto a média nacional é de 19 kg por colmeia ao ano. Para o presidente da Associação dos Apicultores de Sorriso, Walter Nericke, o conteúdo apresentado no evento tem relevância para transformar a realidade da atividade no estado. “Estou muito convencido de que, daqui a dois ou três anos, vai mudar totalmente o cenário da apicultura e os agricultores vão querer abelhas nas propriedades de soja”, disse Nericke.

“Sorriso tem a sorte de ter uma instituição, que é o Clube Amigos da Terra, que tem uma atuação independente, uma visão ampla. É uma associação de produtores rurais, com foco em sustentabilidade, que atua junto à agricultura familiar também. Este evento mostrou como o CAT Sorriso agrega conhecimento e soluções para a economia e projetos sustentáveis”, enfatizou o engenheiro-agrônomo e embaixador do CAT Sorriso, Xico Graziano.

Durante o evento, produtores rurais do Rio Grande do Sul demonstraram práticas bem-sucedidas de integração entre soja e apicultura. Com décadas de experiência, o apicultor Aldo Machado dos Santos apresentou resultados positivos da parceria entre grandes e pequenos produtores na região de São Gabriel (RS).

“Nessas propriedades, não existe perda de colmeias e os produtores estão tendo também o acréscimo na produção. O mel produzido a partir da polinização da florada da soja é muito bem aceito, porque tem um aroma muito floral e um sabor agradável. É um mel claro, de difícil cristalização. Um diferencial muito grande dos outros tipos de mel”, detalha.

O produtor rural Murilo Teixeira Gonçalves, também de São Gabriel, apontou o desconhecimento sobre o uso de defensivos agrícolas como uma barreira à integração.

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“Hoje, o maior paradigma que nós temos que derrubar é a afirmação de que os químicos e defensivos são os responsáveis pelas mortes das abelhas. E eu digo que não é isso! O cuidado que temos que ter é com a tecnologia de aplicação. A minha máquina de aplicação precisa estar bem calibrada e as aplicações não devem ser feitas durante o dia, porque vai ser o momento em que as abelhas estão nas flores. Então, a gente muda, faz aplicação noturna, que é o período em que as abelhas não estão no campo. Tudo é questão de cuidado,” pontuou Murilo.

O workshop “O Agro e as Abelhas” foi realizado pelo IFMT e CAT Sorriso, dentro do projeto Cultivando Vida Sustentável — uma parceria da associação com a organização IDH e a empresa Cargill.

“Esse workshop superou as expectativas. As palestras foram incríveis e eu acho que abriram a cabeça de muita gente para uma possibilidade muito inovadora, que é a produção de soja com a produção de abelhas para, assim, aumentar a produtividade no campo. É o primeiro de vários eventos desse sentido que a gente pretende ofertar”, comemorou a diretora geral do IFMT Campus Sorriso, Zaryf Araji Dahroug Pacheco.

“Foi um marco para nós, apicultores, no Brasil. Foi o primeiro evento em que vi tanta representatividade. Estava aqui uma representante da Aprosoja Mato Grosso, um pesquisador da Embrapa, apicultores, membros de órgãos públicos, todos juntos e engajados no desenvolvimento das atividades sustentáveis”, disse Aldo Machado, que já foi presidente e vice-presidente da Federação Gaúcha de Apicultores por cinco mandatos.

Para Jerusa Rech, gerente de defesa agrícola da Aprosoja-MT, a integração entre apicultura e sojicultura deve ganhar mais espaço e divulgação. “As palestras técnicas que foram apresentadas trouxeram bastante informação e é isso que nós, como associação, precisamos fazer: difundir essas informações, levar o conhecimento a todos os nossos associados e também à sociedade em geral, para que todos entendam que a nossa agricultura é sustentável, ela produz e consegue preservar o meio ambiente de uma maneira que não se vê em nenhum outro país”, destacou.

O evento contou ainda com apoio da Embrapa, Prefeitura de Sorriso, Associação de Apicultores de Sorriso, APIS Vale (Associação de Apicultores e Meliponicultores do Vale do Teles Pires) e Cidesa (Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental Alto Teles Pires).

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