
A Polícia Civil de Mato Grosso apura a possibilidade de vazamento nas investigações da Operação Suserano, que apura um esquema de desvio de recursos públicos por meio da destinação de emendas parlamentares da Assembleia Legislativa (ALMT), principalmente no período eleitoral. A operação foi deflagrada no dia 24 de setembro de 2024, pela Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor), e revelou indícios de superfaturamento e uso político das emendas.
O principal alvo da investigação é o instituto Promatur, que recebeu altas somas da ALMT entre 2021 e 2024 e se tornou a segunda entidade mais beneficiada por recursos de emendas no estado. O dinheiro, segundo o inquérito, foi usado para aquisição de kits agrícolas contendo itens como roçadeiras, motocultivadores, adubadeiras costais e perfuradores de solo, todos com indícios de superfaturamento.
“Laranja” do esquema tentou ocultar provas, diz polícia
Um dos principais investigados, o empresário Alessandro do Nascimento, é apontado como “laranja” no esquema. Um dia antes da deflagração da operação, ele deixou dois caixotes com documentos na casa de amigos e comprou passagens para ele e a família, viajando poucas horas antes da chegada dos policiais. Vestígios encontrados na residência, como malas fora do lugar e roupas remexidas, reforçaram a suspeita de fuga e ocultação de provas.
Durante abordagem no retorno a Cuiabá, no Aeroporto Marechal Rondon, Alessandro foi flagrado com R$ 10 mil em espécie, sem comprovação de origem. Segundo a polícia, sua esposa ainda tentou repassar discretamente um celular à filha durante a abordagem, atitude vista como tentativa de esconder informações relevantes.
A defesa alegou que a viagem foi “coincidência” e que Alessandro voltou ao estado no dia seguinte ou dois dias depois. Os documentos que estavam nos caixotes foram entregues voluntariamente à Polícia Civil dias depois.
Deputados citados e suspeita de lavagem de dinheiro no exterior
Anotações encontradas nos documentos apreendidos revelam os nomes de diversos deputados, com valores ao lado. Em um dos cadernos, estavam os registros: “500k Nininho” (Ondanir Bortolini, Republicanos) e “1m Botelho” (Eduardo Botelho, União), além de anotações ligadas a distribuição de materiais esportivos. Também aparecem os nomes dos deputados Dr. Eugênio (PSB), Dilmar Dal Bosco (União), Faissal Calil (PL), Carlos Avallone (PSDB) e Thiago Silva (MDB). Todos negam qualquer envolvimento com o esquema.


Além disso, a investigação aponta que Alessandro planejava comprar dois imóveis nos Estados Unidos avaliados em R$ 7 milhões, e teria contado com apoio de um contador americano para movimentações suspeitas. A defesa nega a prática de lavagem de dinheiro.
Relação com Avallone e suspeita de compra de votos
As investigações apontam que Alessandro mantinha relação próxima com o deputado Carlos Avallone (PSDB), chegando a recebê-lo em uma festa familiar. Avallone destinou uma emenda de R$ 10 milhões para aquisição de 25 mil kits agrícolas. Em nota, o deputado afirmou que todas as entregas foram feitas fora do período eleitoral, com divulgação nas redes sociais e que está à disposição das autoridades.
Contudo, a delegada Juliana Rado, responsável pelo caso, aponta que os kits também foram entregues pela Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (SIAF) e pelo Promatur no ano eleitoral de 2024, o que levanta suspeitas de uso político. A entrega de barracas e ferramentas a feirantes teria sido feita fora das exceções previstas pela legislação eleitoral.
O inquérito estima um prejuízo de R$ 28 milhões aos cofres públicos. Foram autorizadas medidas como bloqueio de bens, quebras de sigilos e afastamento de servidores envolvidos. A delegada solicitou, em 15 de maio, o envio do inquérito à Polícia Federal, diante da possível violação da legislação eleitoral e da complexidade do caso.
O relatório destaca que, nos eventos de entrega, houve participação direta de parlamentares, com possível coleta de dados pessoais dos beneficiários, como nome, CPF, telefone e endereço, o que pode configurar abuso de poder político e econômico.
Deputados citados na investigação:
– Eduardo Botelho (União)
– Juca do Guaraná (MDB)
– Cláudio Ferreira (PL), atual prefeito de Rondonópolis
– Doutor João José (MDB)
– Alan Kardec (PSB), secretário de Ciência e Tecnologia
– Gilberto Cattani (PL)
– Fábio Tardin (PSB)
– Júlio Campos (União)
– Faissal Calil (Cidadania)
– Ondanir Bortolini – Nininho (Republicanos)
– Dr. Eugênio (PSB)
– Wilson Santos (PSD)
– Thiago Silva (MDB)
– Dilmar Dal Bosco (União)
– Carlos Avallone (PSDB)
– Diego Guimarães (Republicanos) – citado, mas sem emendas direcionadas segundo o UOL.
A investigação segue em andamento, e novas diligências devem ser conduzidas com apoio da Polícia Federal.
Nortão MT com UOL