Secretária e procurador-geral de Sinop sabiam de esquema de superfaturamento, aponta Polícia Civil

Investigações da Polícia Civil apontam que a secretária de Saúde de Sinop, Daniela Galhardo, e o procurador-geral do município, Ivan Schneider, sabiam do esquema de superfaturamento de contratos que desviou R$ 87 milhões. Ambos foram alvos da Operação Cartão-Postal, deflagrada pela Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor), na quinta-feira (19).

Por conta da ação policial, Daniela foi suspensa do exercício das suas funções enquanto gestora da Pasta. Em seu lugar, em caráter interino, foi nomeado o servidor de carreira, Robinson Martins. Já Ivan Schneider teve suspensão parcial de sua atuação, exclusivamente, no âmbito da Secretaria de Saúde, mas mantém suas atividades como procurador geral para todas as demais pastas e assuntos jurídicos relacionados ao município.

De acordo com a decisão ao qual o Olhar Direto teve acesso, o colaborador premiado Luiz Vagner Silveira Golembiouski, que fez um acordo para contribuir com as investigações, disse que após ser expulso do esquema criminoso se viu em um impasse com a secretaria de Saúde de Sinop, porque sua empresa, a MedClin, havia prestado serviços ao município durante todo o mês de janeiro deste ano e estava preocupado com o recebimento do pagamento, uma vez que estava devendo diversos profissionais pelos trabalhos daquele mês.

A partir disso, Luiz Vagner recorreu tanto a Daniela quanto a Ivan Schneider. Segundo o rapaz, com a secretária, ele não conseguiu resolver o seu impasse e, por isso, resolveu procurar Schneider.
O empresário disse ainda que não identificou uma proximidade entre Daniela, Hugo Castilho (dono da IGPP e preso na Operação) e Jefferson Teixeira, mas acredita que ela sabia do esquema.

“Isso está explícito para todo mundo, inclusive para o Tribunal de Contas. Recebe-se R$ 1, 7 mil por plantão e paga R$ 1, 2 mil para o médico. Tem R$ 500 aí que está desaparecido, tá em algum meio. Uma OS não pode ter lucro (…) então todo mundo sabe que é superfaturado”, narra trecho do documento.  

Luiz Vagner esclareceu que quando procurou Ivan, recebeu a notícia de que a MedClin não receberia por aquele mês, pois o pagamento do IGPP seria feito para outra empresa. Então, o colaborador expôs ao Procurador-Geral sua preocupação com os pagamentos dos funcionários, pois estes haviam prestado serviços durante todo o mês de janeiro de 2023 vinculados à MedClin, não a outra empresa.

Ainda segundo Vagner, Ivan disse que “daria um jeito” de pagar com outra empresa, porém emitiria o recibo em nome da MedClin.

Operação

A operação visa desarticular uma organização criminosa envolvida em um esquema que desviou recursos da Secretaria de Saúde de Sinop, com prejuízo estimado na casa dos R$ 87 milhões. As ordens judiciais foram expedidas pelo Núcleo de Inquéritos Policiais (Nipo) de Cuiabá contra 34 investigados, entre pessoas físicas e jurídicas.

Foi verificado que a organização social, que hoje gerencia a pasta da Saúde de Sinop, teria sido especialmente ajustada para assumir a prestação do serviço de forma precária, tendo em vista diversas alterações formais que aconteceram em sua composição no mesmo período em que disputava a dispensa de licitação para assumir tais atividades, entre maio e junho de 2022.

Essa organização social voltou a vencer dispensas de licitação ocorridas entre outubro e novembro de 2022 e entre abril e maio de 2023, de modo que continua a atuar na cidade até hoje.

Com base nas investigações, foi determinado o bloqueio de valores das contas bancárias de 34 pessoas físicas e jurídicas, o sequestro de bens móveis de 21 alvos e o sequestro de bens imóveis de outros oito alvos, a fim de recompor os cofres públicos no montante de R$ 87.419.285,01, que é o valor global de três contratos celebrados entre Sinop e a organização social que gerencia a Saúde da cidade.

Fonte: Olhar Direto

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